O Gambrinus é como um relógio suíço

Crepes Suzette no Gambrinus. Foto de Luís Neves

Deslizam pela sala como se estivessem num bailado. Gestos firmes e ao mesmo tempo suaves. Eficientes mas elegantes. O àvontade de quem faz aquilo para que nasceu com orgulho e gosto. 

O serviço no Gambrinus assemelha-se a um relógio suíço. Cada peça da engrenagem tem uma função e trabalha na perfeição sem atropelos ou confusão, mesmo que as mesas estejam todas ocupadas e a azáfama seja grande. Discreta mas constante atenção, boa disposição e simpatia. 

A sala da tapeçaria, a sala pequena ou a famosa barra são palco e plateia ao mesmo tempo. Todos somos público e protagonistas, os que servem e os servidos. Nada mais democrático! 

Tapeçaria de Portalegre. Foto de Luís Neves

Nas salas o serviço exemplar desdobra-se em mesas de apoio que organicamente a cada segundo vão mudando de sítio de acordo com a necessidade de empratar ou terminar o pedido à frente do cliente. Um gosto vê-los. 

Por muito tempo considerado um dos mais carismáticos restaurantes de luxo de Lisboa, o simples nome Gambrinus era sinónimo disso, mantém a decoração, o espírito e o estatuto, apesar da enorme concorrência de estrelas “michelinas” e de espaços cosmopolitas. 

Menos citado por grupos da moda e da movida, continua a ser uma referência gastronómica e pelo ambiente pensado de raiz pelo arquitecto Maurício de Vasconcelos, em 1964. Traço de requinte e bom gosto que deu carácter distinto à casa mãe, uma charcutaria nascida na Rua das Portas de Santo Antão em 1936.   

A decoração é um retrato de uma sociedade burguesa do século XX atenta às artes decorativas e ao conforto. Uma viagem no tempo. Companhia das índias, talheres de prata, mobiliário de madeiras nobres, couros monogramados, vitrais e pinturas de artistas portugueses, inclusive nas casas de banho. Ex libris do restaurante, “As Quatro Estações”, uma tapeçaria de Portalegre manufacturada a partir de um cartão de Sá Nogueira.    

E para não terminar o texto sobre um restaurante sem falar de comida, falemos sobre o Crepe Suzette, por exemplo. Feito comme il faut, ou, como se dizia em minha casa,  com todos os requintes de malvadez :-) 

Ah, e já agora, acompanhado de um café de balão

A arte de flamejar. Foto de Luís Neves

Sugestão: visita ao Museu da Tapeçaria de Portalegre - Guy Fino

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