Papas há muitas, então no Alkimya ...
Papas de Carolo no Alkimya. Foto de Luís Neves
Pode uma simples receita tradicional ainda surpreender-nos? A resposta está no Alkimya e é...sim. Falemos então primeiro do local, para criar algum suspense.
O Alkimya é o restaurante do Natura Glamping, um espaço de alojamento alternativo situado na Serra da Gardunha, a cerca de 925 metros de altitude, num miradouro natural sobre a Cova da Beira. A viagem até lá, via Alcongosta (concelho do Fundão) é de encher as medidas e preparar os sentidos para o que nos espera, e o estômago para a mesa. O ar puro e fino, a vista desafogada, o som da água a embalar e carvalhais a perder de vista criam o cenário ideal para descanso e bom trato. Uma coisa é certa logo nas primeiras impressões: em qualquer época do ano, a Gardunha chama-nos.
No final do repasto, com vista para a Serra da Estrela, a dúvida está entre a tigelada e as papas de carolo. Em homenagem ao gastronauta Filipe Gill, grande amante destas receitas tradicionais com milho, vamos no carolo. Em boa hora. As melhores, de sempre.
Tal como nos explicou o Jorge Pessoa, mentor do Alkimya e do Natura Glamping, o segredo da receita de papas de carolo é o milho branco, da região, desfeito numa mó de pedra de um moinho comunitário em Cortes do Meio, município da Covilhã.
A receita é simples e fácil de fazer em casa por qualquer um de nós, mesmo o mais inapto para as coisas da cozinha. Factor importante, é saudável.
Aqui vai.
Ferver dois copos de água com algumas pedras de sal. Acrescentar um copo carolo, milho moído de forma grosseira. (Aconselha-se a desfazer em água fria primeiro, até ensopar a água). A seguir, deitar um litro de leite e casca de limão. Deixar engrossar ao lume e ir acrescentando mais leite, no máximo mais um copo. Terminar com açúcar q.b. Contenção é a regra, porque as papas de carolo sabem bem sem excesso de doce.
Por fim, enformar as papas em doses individuais ou em tamanho familiar e, toque final da versão Alkimya, adicionar raspas de lima e um pouco de mel. O morango dá cor, mas não é essencial.
Saborear esta interpretação de umas genuínas papas de carolo é ter esperança de que estamos a valorizar produtos de qualidade e práticas ancestrais, através de receitas antigas apresentadas de forma original e contemporânea.
O que gostámos nesta versão de carolo? A textura do milho, a suavidade e frescura no sabor. A delicadeza da combinação de elementos, sem excessos nem falhas. O corolário perfeito com um clássico da gastronomia da beira baixa, segundo Maria de Lourdes Modesto, mas existente noutras regiões do país muitas vezes em versão salgada, conforme já tratado aqui por nós nas Papas Laberças e no Xerém.
O milho foi durante séculos base essencial da alimentação, no continente e nas ilhas. Na Madeira, por exemplo, são tradicionais as papas, os milhos cozidos e as broas. Nos Açores, o milho aparece em papas de pequeno-almoço e sopas.
Mesmo em Lisboa é possível encontrar carolo à venda, por exemplo, na mercearia Pérola do Arsenal. “Bora lá” fazer umas papas de carolo?
Nota: os Gastronautas estiveram no Alkimya a convite do Turismo Centro de Portugal.