Rituais na Barca Tranquitanas

Porto das Barcas, Sudoeste Alentejano. Foto de Luís Neves

É um ritual. Não tem muito anos mas é como se fosse desde sempre. Mesmo antes dos tempos.

Uma vez no ano, fazemos a estrada da barca, saindo da Zambujeira em direção ao pequeno porto de mar. Vemos o pôr do sol junto ao Tranquitanas e jantamos. Quatro amigos. 

Cumprimos, como bom ritual que se preze, mas nunca perdendo a espontaneidade e a surpresa. Olhamos para o menu, com ar de indecisão, para escolher o que já está escolhido à partida. (lá está, faz parte do ritual supor genuinamente que se vai optar por qualquer outro prato). 

“Venham os Filetes de Pampo”, dizemos em coro. Avisamos o Miguel, o que já sabe,  “versão antiga” (dica de amigos, peçam a “versão antiga” que todos na casa saberão entender a mensagem). 

Filetes de Peixe Pampo na Barca Tranquitana. Foto de Luís Neves

O pampo é um peixe pouco conhecido e, até agora, desvalorizado. Abundante na costa portuguesa, mais a norte há quem lhe chame rolim ou peixe porco. Sem escamas, tem uma pele dura difícil de arrancar. Amanhar este animal requer engenho e arte. Branco como a pescada, rijo como a lagosta, saboroso como a melhor iguaria do mar. Assim se apresenta.

No Tranquitanas são temperados com limão e servidos com migas de grelos. Este ano experimentámos a sopa de peixe. Mais um item a entrar na agenda do ritual. 

Ao leme desta barca está Arménio (pai) e o Miguel (filho). Cada ano, a qualidade e serviço melhora. O cuidado em apurar sabores e saberes é revelador do respeito pelos clientes. Nalgumas épocas do ano, são quase só estrangeiros, muitos caminhantes da Rota Vicentina. 

Como acontece tantas vezes no nosso país, este ritual de quatro amigos celebra no altar da mesa o tempo das férias, mesmo que já não seja, e os prazeres  da vida.

Nesta Barca, a navegar desde 1974, o mar é protagonista, juntamente com os produtos regionais vindos da terra alentejana, como o queijo de ovelha ou a carne de porco preto. O restaurante fica paredes meias com a faina da pesca artesanal e disso beneficia a frescura no prato. 

Este ano, nasceu um novo tripulante, o pequeno Manuel, neto e filho dos timoneiros da Barca Tranquitanas. Parabéns à família. Brindamos, pois. Saúde! 



Sugestão musical: A Casa do Capitão, Jorge Palma 

Previous
Previous

Simply ‘Caldo Verde’

Next
Next

Olive Oil, a.k.a. ‘Azeite’