Regresso aos clássicos no Funchal

Restaurante Casa Velha, Funchal. Foto de Luís Neves

Tal como na literatura, às vezes sabe bem voltar aos clássicos quando se visita uma cidade e se procura um sítio para comer. E estar! Claro que há restaurantes novos, cheios de cor e sabor e boa onda. Apetecíveis, sem dúvida. Mas há os valores seguros onde se vai beber à fonte, provar que o bom e a qualidade são intemporais e estão sempre na moda. Mesmo que tenham muitas décadas de estrada e história.

Nos livros, reler com novos olhos, é quase sempre uma surpresa e nova aprendizagem. Até pelo caminho entretanto andado e vida vivida. As mesmas palavras, mas um novo entendimento. Assim é também na comida e nos seus santuários. 

Pensando no regresso ao clássicos, fizemos base no Casino Park  (projecto de Viana de Lima e Daciano Costa, inspirado numa memória descritiva de Óscar Niemeyer), sentados na ainda hoje incrível sala dos pequenos almoços, imaginámos o espanto de quando foi inaugurada e do que representou no turismo da Ilha. E daí partimos. 

A dois minutos a pé, um oásis no meio do betão. A Casa Velha faz jus ao nome e preserva um exemplar de arquitectura com amplo jardim. Um milagre, que a recente volumetria desmesurada do Savoy ainda faz parecer menos verosímil a sua resistência. 

Entrámos a matar: sopa de feijão branco com gengibre; filete de espada grelhada; mango gratinado. A surpresa da sopa “feijão branco com gengibre é estranho?”, perguntei ao Filipe, diligente empregado. O que respondeu, fica no segredo dos deuses, mas funcionou. “Deliciosa e inesperada!”, foi o meu veredicto. 

No Já fui Jaquet: espada de vinha de alhos com batata doce e salada de feijão. Foto Luís Neves

 Já na Rua de Santa Maria, outro regresso aos clássicos. Jacquet estava no meu imaginário desde 2002, na primeira visita à Ilha. Pela mão de madeirenses, fui comer o espada em vinha de alhos e as melhores batatas fritas do universo e arredores, num ambiente famoso pela personalidade dos donos do restaurante. 

Recentemente, no mesmo local abriu o Já fui Jacquet. Uma releitura bem humorada do imaginário do antigo Jacquet. Se querem entender o que digo, dêem lá um pulo e deliciem-se com o menu. Há coisas que não se contam, é preciso ver com os próprios olhos. Está tudo explicado na lista. No meio de tantas propostas novas e arrojadas, há quem invista em dar segundo fôlego a uma das memórias mais interessantes da restauração madeirense. Com sucesso!

Entrámos a medo, por não querermos defraudar a expectativa do velho Jacquet. De peito aberto, fomos na sopa de pimpinela; no espada de vinha de alhos com batata doce e salada de feijão; terminámos com bolo de mel sobre mascarpone de limão na base, recheado de caramelo salgado com apontamentos de compota de maracujá. Ainda bem que que já foste Jacquet e agora és Já fui Jaquet. Tenho dito.  

É tão bom regressar aos clássicos, na Casa Velha, no Jacquet, na esquina do mundo ou sentados na sala dos pequenos almoços do Casino Park, a pensar como Niemeyer concebeu uma “orientação justa”, fazendo-nos sentir em casa a olhar o mar aos pés do Funchal.   

Cartão no Já fui Jaquet. Foto de Luís Neves



Sugestão de leitura: O nosso Niemeyer. Edição comemorativa dos 100 anos de Oscar Niemeyer. A História do Pestana Casino Park Hotel. Carlos Oliveira Santos.  

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