As lulas da Arte Xávega

Vídeo de João Aires Neves

Em minha casa sempre se chamou Lulas Guisadas. Há quem chame Caldeirada de Lulas. Normalmente acompanham com batatas. Eu prefiro com arroz e pão torrado ensopado no molho acastanhado. 

As melhores lulas guisadas do mundo são as que vou comprar aos pescadores da arte xávega, em pleno areal da praia do Pedrógão. Numa licitação disputada na lota improvisada ali mesmo, leva-as quem dá mais. Acabadas de sair do mar, as lulas vêm misturadas no saco da rede com sardinhas, cavalas, carapaus, raias, pampos e outros peixes. Conforme o dia e a sorte da pescaria. Nem sempre saem. Assim que avisto o barco no mar, anunciado “as redes”, a esperança de sair lulas cresce à medida que vou descendo o areal até à faina. O resultado da pescaria é sempre uma surpresa. Dividido por espécies e feitos os lotes no areal, o peixe é vendido em animado leilão. 

As lulas da arte xávega precisam de ser bem limpas, trazem alguma areia por causa do arrasto final para puxar a rede para fora do mar. 

Depois de amanhadas, o processo é simples. Tomate, cebola, alho, sal e azeite. Molho bem apurado e abundante para ensopar o pão torrado. Lulas cortadas em rodelas. 

É o meu prato favorito. 

Se não foi desta que saíram lulas, pois há mais marés do que marinheiros. O barco está novamente aparelhado, a maré está cheia, a “companha” pronta para sair para o mar. Vai lançar as redes e puxá-las. A esperança renova-se de haver lulas para o jantar. 

Sugestão de leitura: A Batalha sem Fim, Aquilino Ribeiro

Romance de Aquilino, de 1932, inspirado nas gentes da praia do Pedrógão.  

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